sexta-feira, 28 de junho de 2013

Monstros e Humanos

Ela ouviu um pequeno sussurro em baixo de sua cama.

Abriu os olhos, mas a escuridão preencheu-os tão violentamente que precisou processar por alguns segundos se realmente estava de olho aberto ou fechado.

Puxou, calmamente, o edredom acima do nariz, deixando apenas os olhos de fora. Aos poucos suas pálpebras ganharam densidade, e seus olhos começaram a se fechar. O mundo começou a perder a cor, a perder forma. A escuridão começou a tornar-se clara, e sua consciência a ...

E novamente o sussurro puxou-a de volta. Abriu os olhos, assustada.

Sabia que não fora sonho, que não fora estado de dormência.

Sabia o que tinha ouvido.

E sabia que estava em baixo de sua cama.


Lentamente tirou o edredom de cima de seu pequeno corpo, e apoiou o os bracinhos na beirada da cama.

Em seus cinco anos, a única coisa que realmente era clara para ela era que em baixo da cama havia monstros.  No escuro havia monstros.

Mas... Se todo o quarto é escuro, então há monstros em todo o quarto?

Se ela está no quarto, então ela é um monstro?

Mas e a noite, que assola o mundo em escuridão? Seremos todos monstros vagando em um escuro com medo de nossa própria sombra?  Existe uma sombra então?

Será que o real escuro é a nossa sombra? O monstro real? A outra parcela de nossa personalidade que filtra tudo aquilo que em nós nos deturpa da humanidade?

Ou será que nos tornamos monstros no escuro pelo simples fato de nossa sombra fundir-se ao nosso integro, tornando um só, monstro e humano?


Seus cachos loiros tocaram o chão quando ficou de cabeça para baixo, fitando fielmente o chão em baixo de sua cama.

E ali, olhando de volta, e sorrindo, estava ela mesma.

Sorrindo e sussurrando, segurando uma pequena ampulheta, enquanto gotas de sangue escorriam por seu nariz.

- Dedos Azuis

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