quinta-feira, 27 de junho de 2013

Cria-Criatura

A criatura contorcia todos os teus braços em resposta à dor infligida.
O homem sorria. Os outros ao teu lado sorriam e gritavam.

Tirando o ferro da brasa, apontou para a pobre criatura.
A criatura enrolou teus tentáculos e suplicou por misericórdia. Chorou pela misericórdia e pelo remorso que os homens desconhecem.

O homem esticou o braço e afundou, triunfante, o ferro quente contra a pele escamosa da criatura.
Uma lágrima roxa deslizou pelas pálpebras da criatura.

Por um momento, pensou em suas crias e na sua fêmea que logo deixaria para trás. A morte era iminente.
A criatura fechou todos os seus olhos e deitou-se no solo, vencido pela desumanidade dos humanos.

Os homens se apressaram em chuta-lo e esmurra-lo pelo resto da noite.

A noite caiu.
Os homens cansaram.
A criatura se fora.
Suas crias e tua fêmea, dilatadas e apodrecidas em sua toca. Impreparadas para morrerem de fome à espera de um pai que nunca voltará para o lar.

Talvez se a história tivesse sido diferente... 
Vamos corrigir as coisas.

A criatura estremeceu. Os humanos, descrentes, recuaram. Viram o que tinham provocado.
Todo o ódio, toda a raiva, todo o medo. Canalizados e transformados no mais puro exemplo de força.

Com seus tentáculos ele quebrou teus pescoços e arrancou tuas linguás. Com suas garras ele dilacerou teus abdomes e furou teus olhos.

E com os teus olhos ele causou o medo, o panico e a dor que nenhum homem naquela noite jamais havia sentido.
A criatura se tornou humana e desumana.

E naquela noite, ela alimentou suas crias.
- Lágrimas de Gasolina



Nenhum comentário:

Postar um comentário