quinta-feira, 16 de maio de 2013
Desenhos
Deslizei o lápis 2B lentamente pela folha, fazendo malabarismos
com grafite. O brilho translúcido da lua invadia meu quarto pela
janela que jazia aberta. E em frente a janela, a outra casa.
Aquela casa; escura, velha, triste. Sem vida. Uma casa vazia,
escura, velha, triste. E vazia.
Apoiei o lápis sobre o papel e olhei para a casa.
Na janela, uma criança pálida me encarava. As feições distorcidas,
a boca escancarada em um grito infernal, as órbitas negras, vazias.
Vazia que nem a casa, só que não mais.
No dia seguinte, tentei terminar meu desenho. Mas algo me
assombrava, algo me perseguia. Algo obsessor começou a
apoderar-se de mim.
Olhei para a casa, mas fui surpreendido quando minha visão fora
cortada previamente. A criança pálida agora me observava de minha
janela. Sua boca, suas órbitas, sempre um resumo de uma galáxia
infinitamente negra. E ali estava ela. Parada, na janela.
Ainda continuava o desenho no terceiro dia. O ambiente estava gelado.
Não havia como respirar de tão denso. A criança esperava em pé
logo atrás de minha cadeira, sugando meus resquícios de felicidade.
No quarto dia ela não estava na casa, nem na janela. Não estava
no meu quarto.
Ela estava dentro de mim.
O desenho estava pronto.
- Dedos Azuis
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