quarta-feira, 22 de maio de 2013
Requien
O ventilador abafava o choro comunitário.
Os presentes olhavam para cima, como se o incrível fosse iminente.
O que fazer, o que dizer? Coisas assim são sempre inevitáveis. Fatais.
Um homem se aproximou, arrumando o capuz negro e ajeitando as mangas longas, também negras.
O homem não era um homem. Era um velho senhor, com uma curta barba longa. Curta e branca, e um sorriso sincero.
Apanhando a pequena arma sentenciadora que jazia no peito da sua roupa, proferiu algumas palavras para aqueles que conseguiam ouvir.
E de repente o estrondo metálico da enorme cruz sendo desfragmentada. O velho olhou assustado para o anjo de luz que desceu para atrapalhar sua missão.
Aquilo deixara de ser uma missão há muito. Agora era uma batalha entre os opostos.
Enquanto as duas entidades desafiavam-se, os espectadores permaneciam ali, imóveis, ignorantes ao que ocorria. Era só mais um funeral.
Com exceção de Aline. Aline, com seus grandes olhos caramelos, via muito mais que o normal, muito mais que o real. Ela absorvia o universo com seus grandes olhos caramelos.
Ela sabia a que lado pertencia, onde gostaria de passar toda a eternidade. As entidades afrontavam-se aos olhos de Aline, eram poderosas, mas não tão poderosas quanto a escolha da observadora.
Seus olhos caramelos sorriam, e por um singelo momento eufórico, a garota de sete anos esqueceu que era seu pai que jazia deitado em meio ao salão.
Não pôde fazer nada, apenas observar a vitória daquele cujo traria o terror à alma de seu falecido papai.
- Cold Clown
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário