terça-feira, 7 de maio de 2013

Fobias


A porta estava entreaberta. Pelo vidro frio entrava a luz azul da noite. Tênue, suave. Azul.
Meus dedos acompanhavam as palavras do monitor, a cada letra fazendo um som específico. Os braços pendiam apoiados na escrivaninha branca, o pescoço arqueado para frente. O silêncio invadia a casa como uma avalanche colossal.
Foi quando eu senti.
Primeiro uma pequena cócegas, depois um arrepio. As minúsculas patas se mexendo em minha nuca, os meus cabelos se eriçando. E da parte posterior do pescoço começou a se locomover, andando para o lado. Percorreu meu maxilar, meu queixo, e com um forte tapa tirei a pequena aranha do meu rosto. 
Agora meu calcanhar coçava. Levantei bruscamente da cadeira e olhei para baixo, apenas para ver duas pequenas aranhas correndo para dentro do meu sapato.
Tentei tirá-lo, mas meu braço esquerdo estava contraído demais para isso. Os pelos se levantavam de acordo com as aranhas que desciam por meu cotovelo, por meu antebraço, por minha mão. Levantei-a na altura de meus olhos esbugalhados, pasmo de terror e choque, enquanto elas me fitavam da ponta de meus dedos.
Gritei insanamente, apenas para abrir espaço e permitir os meus pequenos pesadelos a entrarem em minha boca, escorrerem por minha garganta e me fazer engasgar. Fui ao chão, movido por dores insuportáveis em todo o corpo.
Elas estavam em todas as partes, cobrindo meus braços, minhas pernas, meu rosto. Cobrindo meus olhos. Até tudo ficar preto.
Abri-os e gritei secamente, em um espasmo de susto, encharcado de suor, encarando o computador a minha frente. Fiquei sentado, eufórico, sozinho. No escuro. Acho que eu peguei no sono.
Espera…
Sentiu isso?
- Dedos Azuis

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