domingo, 12 de maio de 2013
Dedos Azuis
Então eu me tranquei na gaveta, e… hm.. é.. bom…
Talvez seja melhor… Melhor.. Reiniciar…
Havia um computador. Havia um computador e havia um menino.
Branco, grande e potente. E com uma maçã na tela.
Certamente falo sobre o computador.
O menino era extremamente pequeno, extremamente frágil.
Extremamente o extremo do oposto do computador.
E assim tornaram-se melhores amigos.
O menino sentava no fundo de seu quarto; cinza, escuro, irregular.
Em meio as tábuas que se contorciam como dentes podres,
ele conversava com seu computador.
Riam, cantavam, choravam. Mas o que o menino realmente
amava no imponente gadget era sua capacidade
de contar histórias.
Deitado em baixo de sua fria cama, o garoto passava
infinitas horas estático, observando, enquanto o eletrônico
narrava as mais belas histórias de sua memória RAM.
Até aquela quinta-feira chuvosa. Até aquela maldita
quinta-feira. Eu era aquele garoto, aquele era o meu computador.
E aquele foi o pior dia da minha curta e infinita vida.
Foi a quinta-feira em que o meu Mac narrou o último
conto de sua memória. Quando eu apertei “enter”,
e a sádica tela azul apareceu, gritando sussurros e pedindo
indulgentemente para a leitura ser reiniciada. Reiniciar.
Olhei, atônito.
Minha boca pendia aberta, inconformada com tal
absoluto sacrilégio. Era o fim.
Corri até a escrivaninha e arrebentei-a com um forte chute.
Folhas brancas voaram para todos os lados. Peguei um lápis,
joguei-me ao chão e comecei a escrever. Mas o grafite era fraco para
tanto ódio, para tanta inspiração. O fino material partiu-se ao meio.
Mordi o dedo com força e comecei a escrever com sangue.
Repeti isso mais nove vezes.
Não havia mais folhas brancas. Havia um menino ofegante, havia folhas escritas em um marrom escuro e quebradiço. Havia dez dedos azuis pela falta de sangue.
Caminhei até a cômoda do quarto, já tão pequena que caberia em uma mochila, e subi pela lateral do móvel.
Então eu me tranquei na gaveta, e todo o meu corpo se desfez em contos.
- Dedos Azuis
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