O clique do mouse tornou-se tão repetitivo que passei a processá-lo de forma mecânica.
Enquanto as janelas iam abrindo e fechando, iluminando meu rosto, meus olhos acompanhavam cada movimento com um frenesi doentio.
- Allan, não vou te chamar de novo! Desça agora!
Ignorei o chamado de minha mãe completamente, e continuei imerso em minha rede social.
Meu pai então abriu a porta com uma força brutal, precipitou-se sobre meu macbook e socou seu teclado, berrando:
- Saia disso agora!
Saindo de meu quarto com a mesma velocidade que entrou, meu pai deixou-me sozinho.
Gritei ao ver a tela de meu computador oscilando de forma penosa. Cliquei diversas vezes e tentei digitar, mas nada. O note estava quebrado.
- Não, não, não...
Era inútil. Minha vida tinha acabado.
Com o coração apertado e uma náusea monstruosa, precipitei-me para descer e jantar, mas algo estranho aconteceu.
Não conseguia soltar a mão do mouse. Não, não era por vontade. A minha mão realmente não se soltava, como se uma força maior a puxasse. Como um vetor, de mesma força e intensidade porém de direção oposta, o teclado quebrado sugou minha outra mão.
Estraçalhando todas as peças, senti a eletricidade percorrer meu punho quando toquei na placa mãe do notebook.
O mouse rachou também, dando abertura para minha outra mão preencher seu interior.
Antes que eu pudesse gritar, a tela sugou meu rosto, e todo o meu corpo foi parar dentro do espaço virtual.
E então, finalmente senti paz. Estava ali, em baixo da foto que escolhi para minha capa, em um pequeno quadrado com a borda branca na superfície esquerda da tela, sorrindo para todos aqueles que clicassem em Allan de' Lucca. Agora eu não era só um operador, e sim meu próprio perfil.
- Dedos Azuis
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